quarta-feira, 1 de junho de 2016

27º dia | A celeste enfermeira e o marido cruel

Narrado por Dom Bruguière, francês e vigário apostólico de Tchen-Ting-Fu, na China, eis um fato ocorrido a 23 de junho de 1894 que manifesta a bondade de Maria: 

Viajei para ministrar o sacramento da Crisma numa aldeia de meu vicariato. À minha chegada, os poucos cristãos prestavam-me todas as honras possíveis. Ao meio dia, enquanto almoçava, chegou correndo uma mulher pagã. Apresentou-se de repente e, inclinando-se até o chão, cumprimentou-me com os títulos pomposos de grande homem, grande mandarim, demonstrando a distinção da civilização chinesa. 

— Que queres? — perguntei-lhe com caridade. 

— Grande chefe, peço-vos o favor de ser admitida na catequese dos cristão. 

— Quem te falou da catequese dos cristãos? 

A mulher, de aparência doentia, tinha por marido um sujeito brutal que estava resolvido a deixá-la morrer. Rejeitou-a, aparecendo apenas para ver o avanço da doença. A mulher ficou na cama e, acabados os mantimentos e remédios, à sua fraqueza ajuntou-se o tormento da fome, e aos sofrimentos, um isolamento duro e cruel. 

Abandonada, às portas da morte, amaldiçoou sua sorte, seu marido e até seus próprios pais. Uma cristã da aldeia, porém, levou-lhe um dia um docinho e algumas palavras de consolo. 

— Amiga, se ao menos você fosse cristã... Veja, a dor não pode desanimar-nos, pois sabemos que Deus vê nossos sofrimentos e nos recompensará. Também podemos recorrer a Nossa Senhora. Custa tão pouco dizer: Santíssima Virgem que tanto padecestes, tende pena de mim... 

A doente repetiu essas palavras. A caridosa vizinha, antes de voltar para casa, como prova de amizade pendurou-lhe ao pescoço o escapulário que trazia. 

— Olha, guarda isto, é o vestido de Nossa Senhora; há de atrair sobre ti graças e proteção. 

Ficando sozinha, a pobre mulher repetia sempre: Santíssima Virgem, socorrei-me. De repente, uma senhora vestida de branco visitou-a na miserável choupana, servindo-lhe de enfermeira. Voltou vários dias para prestar-lhe assistência, mas sem dar-se a conhecer. Seus cuidados, sua bondade, seu meigo sorriso reanimaram pouco a pouco a alma e o corpo da infeliz mulher. Restabelecida esta, a senhora despediu-se dizendo: 

— Vou deixar-te porque um negócio urgentíssimo me chama à cidade; toma este remédio, e quando ficares curada, procura-me na igreja matriz. 

A doente tomou o remédio e sarou logo. Era 5 de janeiro, dia da minha chegada à aldeia. Esta mulher pagã contou-me isso de uma maneira tão sincera que não duvidei de suas palavras e aceitei-a na catequese da cidade. Não tinha sossego, tão aflita estava por tornar a ver a sua bela benfeitora. Na Páscoa, os catecúmenos foram levados à igreja. Acabava eu de rezar o ‘Gloria in Excelsis’, os sinos soavam com alegria, as imagens já estavam descobertas. 

— Ei-la, ei-la!, gritou a mulher, adiantando-se de braços erguidos. Eis a Senhora que me curou. 

Ajoelhou-se, de mãos postas e olhos fitos na imagem, suspirando de alegria. Ela é foi, durante sua vida, uma das mais fervorosas devotas da Santíssima Virgem. 

Frase do dia:

"Ela é o hospital público que Deus abriu a todos os gêneros de sofrimentos e misérias que nos acabrunham; no qual, se não se é sempre curado, encontra-se, ao menos, algum alívio." 

(São João Damasceno)

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