"Durante a vida recebestes teus bens e Lázaro seus males."
O Evangelho proposto para a oração de hoje é um retrato visível de um mundo que ainda não descobriu o verdadeiro amor. Um mundo em que a falta de amor, mata tanto quanto a falta de pão. E a fome de pão é a mais pura manifestação da fome de amor.
Essa parábola de Jesus, segundo Lucas, é um empecilho a quem cogita viver um amor exclusivo e doentio que ofusca o olhar diante das necessidades dos outros. As consequências para quem procura ajuntar para si frágeis tesouros ou mesmo a barca para si mesmo os dons destinados a todos, são sempre vazios. Vive-se uma vida medíocre cercada na mais profunda arrogância e orgulho. Longe de pensar que a vida é um determinismo em que uns são agraciados por Deus e outros esquecidos. Jesus quer salientar que a generosidade do Pai é para todos. Todos tem direito a uma vida digna.
O exemplo do Evangelho de hoje mostra justamente o resultado de que alguns se julgam privilegiados pela graça e por isso não se importam com os outros, enquanto outros sofrem toda espécie de marginalização.
A vida não deixa de nos instruir com fatos desconcertantes. A cena do rico e do pobre Lázaro é um apelo a contemplação que leva a conversão da vida e do coração. Talvez seja difícil admitir, mas esses dois personagens passaram pela história digladiando-se dentro e fora de nós.
O tempo litúrgico que estamos vivendo é uma ocasião ímpar para um profundo exame de consciência. Para considerarmos sobretudo que não estamos diante da imagem de um Deus mesquinho, mas sim um Deus que cuida, que ama, protege e abençoa largamente a todos.
O Evangelho conclama a nossa sensibilidade diante da degradação da dignidade humana. Não se pode aceitar e muito menos admitir que uns continuem destruindo o que é de todos. Tal, como propõe Santo Inácio, no Exercício da Encarnação, em que "A Trindade Santa, contempla um mundo e se deixa afetar pelo que vê."
Meditemos hoje nossa realidade com o olhar de Deus unido ao coração de Jesus, que se faz sentir. O reino de Deus e sua justiça se alcança quando vemos o outro como nosso irmão. Nosso coração será misericordioso como o do Pai, quando fomos capazes de coloca-lo na dor do outro. Seremos filhos amados do Pai, que manifesta a nós seu agrado, como manifestou a Jesus no Tabor, quando nos despimos da nossa falsa pobreza, ganância e aridez e tudo que nos impede de nos transfigurarmos com Ele.
Graça, Misericórdia e Paz