O Evangelho de hoje dá continuidade à polêmica que se instalara entre Jesus e os fariseus por ocasião da cura de um paralítico. Neste longo e profundo discurso, com o qual Nosso Senhor se justifica magistralmente aos judeus hipócritas, um breve mas significativo trecho nos deve ferir os ouvidos: "Como podereis acreditar", diz Cristo, "vós que recebeis glória uns dos outros e não buscais a glória que vem do único Deus?" Vemos aqui com bastante clareza que a vanglória constitui um grande obstáculo à fé. Pois nada cega mais o coração e obscurece mais a inteligência do que preferir a glória, tola e vazia, que vem dos homens àquela que, verdadeira e sincera, vem de Deus (cf. Jo 12, 43). Para bem entendermos este passo do Evangelho, vejamos antes de mais de que tipo de "glória" estamos falando.
O termo "glória" refere-se a um certo resplendor ou brilho que brota de uma qualidade reconhecida como tal. Expliquemos por meio de um exemplo. Suponhamos que um determinado aluno, muito estudioso e dedicado, seja o primeiro da turma. Atento a seus méritos e dedicação, o professor sente nascer por ele uma espécie de admiração chamada reverência, que o leva a reconhecer a grandeza do menino. Para honrá-lo com justiça, o professor decide dar-lhe uma medalha, que manifesta visivelmente aos demais colegas o valor daquele aluno esforçado. Ao honrá-lo, pois, com um prêmio, o professar dá a conhecer exteriormente o valor e a grandeza interiores do seu discípulo. À manifestação visível deste valor chamamos "glória", que faz brilhar e resplandecer a olhos vistos as qualidades escondidas de um espírito virtuoso.
Esta glória, no entanto, se torna vã e inane quando aquele que a atesta é incapaz de aquilatar o real valor das coisas. Um interesseiro e bajulador, neste sentido, não pode dar verdadeira glória a ninguém; as suas apalavras elogiosas não passam, pois, de mentiras, de bajulices, de adulação mesquinha e aproveitadora. Este vício, ao espraiar-se pela sociedade e tomar conta do comum dos homens, acaba por tornar-nos um cordão de lisonjeadores — ficamos todos elogios, todos mesura, todos rasgando sedas uns para os outros… E, por fim, ficamos cegos, sem poder enxergar com acuidade a realidade tal como ela é, sem poder dimensionar o justo valor de cada coisa. Esta cegueira, como é óbvio, é uma barreira à luz da fé: "Como podereis acreditar", repete o Senhor, "vós que recebeis [vanglória] uns dos outros e não buscais a glória que vem do único Deus?"
Roguemos hoje a Jesus que, purificando-nos destas vaidades humanas, dê-nos o realismo e a sobriedade necessária aos que se dispõem a crer de todo coração. Que Maria Imaculada, Virgem Santíssima, nos ajude a abraçar o testemunho que o Pai dá do Filho, para que nEle acreditemos e nEle depositemos todo o nosso e todo o nosso afeto. Não busquemos o elogio dos homens; procuremos antes agradar apenas o nosso Deus, que tudo vê com clareza, que tudo dispõe com sabedoria e beleza.
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