Era o tempo dos últimos navios à vela. À uma da tarde, hora da tripulação recolher beliches, um marinheiro cai ao mar. Lançam-lhe os dois únicos salva-vidas que havia a bordo, pois os restantes tinham ficado perdidos pelas alturas do Cabo Horn, na ponta meridional da América do Sul. Agarrado a um deles, o homem pôde se salvar.
Mas que foi feito do outro salva-vidas? Ao raiar o dia, estupefação! Lá está o salva-vidas e alguém em cima dele: é o aspirante Jacques de Langelle, quase desmaiado, que só por milagre se agüenta ainda. Uma vez socorrido, ele mesmo contou como tudo se tinha passado.
Ao ouvir o grito “um homem ao mar!”, do lado onde se encontrava, pulou na água com a intenção de salvar o náufrago, receando que ele não soubesse nadar. Ninguém havia notado seu gesto, pois todas as atenções estavam concentradas no outro bordo. Langelle agarrou-se à segunda bóia, pensando que a embarcação, depois de recolher o outro marujo, seguiria à procura dessa bóia. Por isso, qual não foi seu espanto ao ver a fragata desfraldar as velas e retomar sua rota. Gritou freneticamente, em vão. A noite caía rapidamente, quase sem crepúsculo. O pobre marujo sentiu-se só, perdido para sempre. A reflexão de que não tinha nenhum serviço previsto naquela noite, acabou por lhe tirar o resto da esperança: ninguém notaria sua ausência, pensariam que estivesse dormindo, deitado muito comodamente na sua beliche... Passaram então por sua mente as vertigens da loucura, e ele sentiu a tentação de se deixar afogar. Aquela água profunda, azul e calma, atraía-o; as estrelas pareciam dançar a seus pés... Já as mãos largavam o frágil apoio, quando o jovem, que era de boa formação religiosa, lembrou-se de Maria. Ergueu os olhos para outra estrela, cujo suave brilho o reconfortou; começou a rezar, a invocar a sua Mãe do Céu, que estava lá em cima entre as estrelas — Stella Maris — e encontrou energia bastante para lutar, apesar de tudo, até pela manhã, com todas as forças da sua fé e da sua confiança na Santíssima Virgem.
À hora em que rompia o dia, em que as estrelas começam a se apagar no céu, a fragata estava ali diante dele e já o recolhiam a bordo. A Estrela da Manhã tinha valido a seu devoto.
Frase do dia:
"Deus não salva ninguém sem a intercessão de Maria; poderia, mas não o quer."
(São Jerônimo)
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